FNM/Alfa Romeo D-9500/D11000: O desbravador nacional

O "FENEMÊ" FOI O PRIMEIRO CAMINHÃO NACIONAL E FICOU LONGOS 20 ANOS NO MERCADO

A História da FNM(Fábrica Nacional de motores) é um pouco conturbada, cheia de altos e baixos, vendas não concretizadas e depois concretizadas, vários governos etc...

O COMEÇO O PLANO ERA PRODUZIR MOTORES DE AVIÕES: em 1938 foi criada a Fabrica Nacional de Motores(FNM) ainda no governo Vargas, em 1942 ela foi inaugurada assim como a Companhia Siderúrgica nacional e o plano era produzir motores de aviões , em 1945 a Segunda Guerra Mundial acaba e a FNM chegou a produzir um motor Wright Whirlwind radial de nove cilindros e 450CV, mas o fim do Governo Vargas a FNM entrou em indefinições, em 1946 a base do apoio do Governo Gaspar Dutra dizia que era para vender e ele foi vender, mas não encontrou comprador na época e aí várias indefinições chegou a pensar em fabricar Jeep Willys e caminhões Mack(essa última exigiu o controle acionário) até que veio a definição.

O COMEÇA COM A ISOTTA FRASCHINI: Em janeiro de 1949 a FNM assina um acordo com Isotta-Fraschini, que previa a fabricação do modelo do Brasil e aumento de nacionalização do modelo, era o D-7300, o motor era o seis cilindros  em linha de 7.3 litros á diesel 100CV, infelizmente por ser bem raro afinal foram apenas 200 unidades, é difícil achar dados detalhados e parece que não sobrou nenhum deles vivo até hoje, lembrando que contribuiu também a falência da Isotta-Fraschini em setembro daquele mesmo ano, no caso do D-7300 já vinha com 30% de nacionalização, afinal perante os CKD á gasolina de Ford e GM já estava ótimo.
O FNM D-7300 chegava ao mercado com motor seis cilindros em linha á diesel de 7.3 litros e 100CV.

Diante dos problemas com Isotta-Fraschini, eis que as negociações entre o governo brasileiro e italiano se encaminharam para então estatal Alfa Romeo.

A CHEGADA DO D-9500:  Em outubro de 1951 o modelo D-9500 passa a ser montado no Brasil em CKD, o câmbio era manual de oito marchas, sendo quatro normais e quatro reduzidas, inclusive ele tinha duas alavancas características dos "Fenemê", ele vinha nas configurações 4x2, 6x2 e cavalo-mecânico 4x2, o motor era o Alfa Romeo seis cilindros em linha de 9.5 litros, 12 válvulas, com bloco e cabeçote de alumínio, comando de válvulas no cabeçote acionado por engrenagens, o seu diâmetro era de 120mm e o curso era de 140mm o que dava 9495cm3, a sua taxa de compressão era de 15,5:1 e com isso gerava 130CV a 2000RPM, infelizmente não temos dados de torque(é uma pena, algo bem importante num caminhão) e bomba injetora de atuação direta, suspensão era dependente tipo eixo rígido com feixe de molas e os freios eram a tambor nas quatro rodas(ou seis se for trucado) ,a direção era setor e rosca sem fim e o tanque era de 140 litros.
O D-9500 aqui 6x2 com motor seis cilindros em linha de 9.5 litros e 130CV.

Aqui um raro cavalo-mecânico D-9500.
Em outubro de 1952 na linha 1953 nada muda, em janeiro de 1953 dá início a nacionalização com cabines, pneus e baterias nacionais e o curioso que não apenas a FNM fabrica as cabines como outras empresas fabricavam as cabines como a Brasinca, Metro, Inca, Drulla, Gabardo e Rasera. Cada uma delas tinha peculiaridade, inclusive a Metro era única a abrir portas do jeito que conhecemos, já no resto era com porta "suicida". Em outubro de 1953 na linha 1954 nada muda e o "Fenemê" começa a vender mais que os importados á diesel(na época Mercedes-Benz, Scania e Volvo), em janeiro de 1954 a nacionalização aumenta com molas, radiador, tambor de freio, tanque de combustível e sistema de escapamento fabricados no país atingindo 45 % de produção local. Em outubro de 1954 na linha 1955 nada muda, em janeiro de 1955 a nacionalização aumenta com chassi, suspensão, freios e chassi fabricados no Brasil e com isso vai a 80% de nacionalização, o motor continuava importado da Itália. Em outubro de 1955 na linha 1956 nada muda e segue até outubro de 1957.

A CHEGADA DE UM MOTOR MAIS POTENTE E MUDANÇA DE NOME:  Com a nacionalização dos Mercedes-Benz L-312, Scania Jacaré e na mesma época o Ford F-600, a FNM mesmo sendo uma empresa estatal decidiu reagir: trocar o motor ainda que importado da Itália, ele é renomeado D-11000, o motor seis cilindros de 9.5 litros dá lugar ao novo seis cilindros de 11 litros era o ARS 1610, o seu diâmetro passava a 125mm e o curso a 150mm, com isso totalizava 11050cm3, a taxa de compressão era de 17,5:1  e com isso gerava 150CV a 2000RPM (Infelizmente não tem o torque do modelo dessa época), aliás desde o início os chassis dos caminhões eram assim:

V2: Chassi superlongo
V4: Chassi longo 4x2 adptável para terceiro eíxo
V5: Chassi normal para puxar reboque(romeu e julieta)
V6: Cavalo-mecânico 

Suspensão, freios e direção nada mudava. Outro ponte importante: não existia estradas Asfaltadas naquele tempo, só a Via Dutra e olhe lá, o resto era estrada de chão batido.

Aqui um D-11000 4x2 o motor seis cilindros de 11 litros gerava 150CV, mais tarde foi a 175CV.

O 6x2 com o mesmo motor do 4x2.

O raro cavalo-mecânico com o mesmo motor do 4x2.

O cavalo-mecânico era habilitado para carretas e dois eixos. Em outubro de 1960 na linha 1961 nada muda, em outubro de 1961 na linha 1962 chegava o chassi V8 quer o chassi longo com terceiro eixo de fábrica(instalado por terceiros) em outubro de 1962 o motor passa a ser feito no Brasil e a opção de chassi V8 dava o seu adeus , Em outubro de 1963 na linha 1964 nada muda.

A CHEGADA DO GOLPE MILITAR: Como a FNM era uma empresa estatal sou obrigado a citar política aqui, em 31 de março de 1964 houve o golpe de estado e o governo militar entrou num dilema: privatizar ou não?  metade era a favor e metade era contra, inclusive o presidente da FNM na época era um Militar(aliás desde o nascimento dela era um militar na presidência até ser privatizada) era contra, mas o ministros econômicos da época, sempre "asfixiavam" financeiramente. Em outubro de 1964 na linha 1965 nada, em outubro de 1965 na linha 1966 nada muda.

MAIS POTÊNCIA E A CHEGADA DO TERCEIRO EIXO DE FÁBRICA:  Em outubro de 1966 na linha 1967 o motor seis cilindros de 11 litros, rebatizado de FNM 9610 agora passava a gerar 67KGFM a 1400RPM e 175CV a 2000RPM e junto com ela estreava o chassi V12 que era mais largo e longo com o terceiro eixo de fábrica. Em outubro de 1967 na linha 1968 nada muda.

A VENDA A ALFA ROMEO: A FNM foi a primeira privatização do país, afinal queriam se livrar da estatal e venderam a preço baixo para a Alfa Romeo que... era estatal italiana na época! por que? não fizeram nenhuma licitação, afinal Renault e Citroën tinham declarado interesse na fábrica e a própria Alfa Romeo tinha abandonado a produção de caminhões na Itália. Em outubro de 1968 na linha 1969 chegava o V12 que era o chassi curto que podia ser cavalo-mecânico ou para betoneiras e caçambas. Em outubro de 1969 na linha 1970 nada muda, em março de 1970 chegava o chassi V10 que era o chassi-superlongo 4x2 para boiadeiros e tinha travessas reforçadas, em outubro de 1970 na linha 1971 nada muda, em outubro de 1971 na linha 1972 nada muda, em março de 1972 chegava o V17 em  duas configurações:  chassi longo com terceiro eixo e maior capacidade de carga e o chassi longo 8x2 com segundo eixo direcional, na época não agradou muito eram um "bitruque" ao contrário dos tempos de hoje em que o bitruque faz sucesso.

O 8x2 chegava ao mercado com 175CV no motor seis cilindros em linha de 11 litros.

Era o último suspiro do primeiro "Fenemê" (tirando é claro o ultra raro Isotta Fraschini) e com isso depois de 21 anos em outubro de 1972 ele é substituído pelos modelos 180/210 mas essa uma outra história.


O "Fenemê" desbravou o país num tempo que nem tinha estradas, se tornou sinônimo de resistência na época, tem conceitos que seria moderno até hoje como bloco de alumínio(aliás nenhum caminhão tem hoje em dia), cabeçote de alumínio(comum nos carros e raro nos caminhões só o Iveco Cursor tem, que por situações do destino é "tataraneto" do FNM. lógico que nos anos 1960 sofreu com as evoluções da concorrência em especial Scania e Mercedes-Benz. lógico que hoje a maioria dos "Fenemê" que estão na ativa estão com motores Scania, Volvo e até Mercedes-Benz, mas existem os modelos nas mãos de colecionadores que tem o motor original, talvez por questões de achar peças para esses  motores e fora que a potência é bem fraca para os padrões de hoje, na sua época não era de tão mal, só anos 1970 começou a ficar complicado e apenas nos pesados, abaixo desse segmento até que não estava tão mal. mas enfim o primeiro dos "Fenemê" deu adeus em 1972.




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